II Congresso Internacional na "Recuperação,
Manutenção e Restauração de Edifícios"
10,11 e 12 de Maio de 2006 - Rio de Janeiro - Brasil
RECOMPOSIÇÃO DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS
DA IGREJA NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO
Junginger, Max (1); Resende, Maurício M. (2); Cordts, Roberto de M. (3)
(1) Av. Eliseu de Almeida, 2046/22C, SP, SP, 05533-000
(11) 9293 2164; maxjgg@gmail.com
(2) L.A. Falcão Bauer; Rua Aquinos, 111 - Água Branca – SP, SP, 05036-070
(11) 8349 7891; mresende@falcaobauer.com.br
(3) Praça Franklin Delano Roosevelt, 146, 13º andar, SP, SP, 01303-020
(11) 3151 4576; engermc@terra.com.br
RESUMO
A Igreja Nossa Senhora da Consolação foi construída em 1799 e reformada em 1840, quando recebeu
novos adendos e teve um aumento de área. A partir de então, poucas foram as intervenções preventivas
executadas, o que culminou com a ocorrência de grandes danos ao longo do tempo.
Este texto aborda a recuperação interna e externa da igreja. Na parte interna existem cúpulas de argamassa
de cal e revestimento de cal e gesso nas paredes e, sobre todas as superfícies, pinturas e afrescos
belíssimos que acabaram por ser parcial ou totalmente destruídos pela infiltração de água de chuva e
por recalques diferenciais provavelmente ocasionados pelas cargas da torre frontal e também pela passagem
do metrô nas imediações.
Para a proposta de recomposição das cúpulas, foram executados ensaios químicos e físicos com o objetivo
de descobrir qual o tipo de material usado na sua construção original, de onde se chegou a argamassa
armada de cal e areia suportada por tirantes de aço apoiados na estrutura treliçada do telhado.
A partir daí, pôde-se estabelecer a metodologia de recuperação com produtos adequados e quimicamente
compatíveis.
No caso das fachadas, o acabamento é do tipo massa lavada (massa batida, fulget ou granito lavado, na
nomenclatura atual de revestimentos semelhantes). Além da especificação de um traço adequado e
durável, uma das dificuldades residiu no proporcionamento adequado de vários tipos de pedras que
imitassem ao máximo o revestimento existente, uma vez que nem todo ele seria removido por insuficiência
de verba. Em alguns casos, todo o conjunto de camadas precisou ser especificado: chapisco,
emboço e reboco, sendo que algumas regiões atingidas por fissuras foram também reparadas.
1. INTRODUÇÃO
De maneira geral, as igrejas antigas apresentam grande riqueza de detalhes, tanto internos quanto externos,
executados por verdadeiros artesãos especializados e dotados de esmero impecável. Por este
motivo, dentre outros, a durabilidade dos serviços originais mostra-se bastante ampla e, após várias
décadas da execução da obra, quando surgem as primeiras manutenções preventivas, fica evidente a
dificuldade de refazer os serviços com o mesmo cuidado do trabalho original. A dificuldade em dispor
de materiais semelhantes é patente e a mão de obra qualificada para os serviços de reparo é quase inexistente.
O que se percebe, pois, são reparos localizados em vários pontos, executados de forma inadequada e
com aparência e qualidade simplesmente incompatíveis com os acabamentos originais, o que causa
estragos e danos irrecuperáveis ou de execução demasiadamente custosa para obras que, pelo seu próprio
uso, dispõem de parcos recursos para manutenções em qualquer escala.
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Este texto expõe, de forma resumida, a metodologia adotada para os reparos da Igreja Nossa Senhora
da Consolação, na capital paulista. Serão abordados aspectos de recuperação das cúpulas internas e das
fachadas externas.
2. RECUPERAÇÃO EXTERNA
As fachadas da Igreja da Consolação são compostas por dois tipos básicos de revestimentos: cantaria e
reboco1. De maneira geral, as paredes da Igreja da Consolação são em cantaria (Figura 1) e os adornos,
detalhes e revestimentos dos pilares são em argamassa de reboco (Figura 2). Não foram feitas avaliações
minuciosas para averiguar se a cantaria é usada como elemento estrutural das vedações verticais,
mas aparentemente isto acontece em alguns locais.
Figura 1. Detalhe de parte da fachada em cantaria
(foto do autor)
Figura 2. Detalhes do reboco de fachada
(foto do autor)
Figura 3. Sujeira, pichação e desagregação
(foto do autor)
Figura 4. Frisos da cantaria deteriorados
(foto do autor)
1 Reboco: usa-se aqui o termo reboco para designar uma argamassa composta de agregados minerais graúdos (principais
responsáveis pelo aspecto final do produto endurecido), areia fina, pó de mármore, cimento, cal e eventualmente algum
corante de origem mineral. A composição da argamassa pode variar em traço e conteúdo de acordo com a região e a dosagem,
de modo que os componentes citados podem ou não estar presentes. O termo usual na época era “massa lavada”. Hoje,
ouve-se massa batida, fulget, granito lavado, entre outras menos comuns.
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Os problemas detectados se resumem a quatro principais: acentuado acúmulo de sujeira, pichações
localizadas, desplacamento/desagregação generalizada do reboco (Figura 3) e deterioração global dos
frisos de argamassa da cantaria (Figura 4).
2.1 Cantaria
O problema existente na cantaria resumia-se basicamente aos frisos de argamassa, seja por desagregação
mecânica ou por descolamento da base. Em muitos locais já havia sido feita pelo menos uma intervenção,
mas não houve o cuidado em remover a argamassa existente no interior das juntas das pedras,
o que culminou em fraca ancoragem superficial, posterior perda de aderência e destacamento.
Também, mesmo os frisos originais estavam com som cavo em vários locais, além de sujos em diferentes
níveis e com pichações localizadas. Uma vez que a remoção parcial deixou muito visível as
áreas recuperadas e culminou por afetar partes adjacentes, a decisão final foi pela remoção completa
dos frisos e posterior reaplicação.
Para garantir uma ancoragem adequada, a argamassa dos frisos foi removida em pelo menos 1cm de
profundidade nas juntas das pedras (Figura 5). Após limpeza com jato de água a alta pressão, permitiuse
um tempo de secagem superficial e em seguida foi aplicada uma demão de pasta de cimento (cimento
amolentado com resina acrílica) dentro das juntas, formando uma ponte de aderência para a argamassa.
Na seqüência e antes da secagem da ponte de aderência, foi aplicada a argamassa e foram reconfeccionados
os frisos das juntas no formato semelhante ao original, com cerca de 2cm de largura.
A reconstrução dos frisos foi um trabalho estritamente artesanal e lento, executado com auxílio de
espátulas e desempenadeiras (Figura 6). O traço2 de argamassa utilizado foi exaustivamente testado até
chegar-se numa proporção de componentes em que a retração da argamassa não se manifestou na forma
de fissuras visíveis. Foi usado um traço básico de 1:6 (cimento:agregado), sendo que o agregado
foi representado por uma mistura de areia fina, areia média e pó de mármore numa proporção aproximada
de 5,5:0,5 (areia: pó de mármore). Tal composição resultou numa argamassa bastante plástica e
de trabalhabilidade adequada para o fim a que se destinou.
Figura 5. Preparo das juntas da cantaria
(foto do autor) Figura 6. Reconstrução dos frisos (foto do autor)
Não foi utilizado qualquer tipo de aditivo na argamassa dos frisos, uma vez que produtos de baixa
qualidade poderiam causar alteração de cor no futuro e a limpeza do excesso de argamassa sobre as
pedras ficaria em muito dificultada. Assim, a aderência foi otimizada apenas pelo uso da ponte de aderência
já descrita nos parágrafos anteriores.
2 Todos os traços aqui especificados referem-se a volumes úmidos e optou-se pelo uso de cimento tipo CP IIF e cal CH I.
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Uma vez que o clima local era bastante agressivo, foi utilizada uma manta plástica preta sobre os frisos
recém executados, protegendo-os do vento e sol; pelo menos duas vezes ao dia e durante por no mínimo
sete dias, a manta foi afastada, os frisos foram encharcados com água limpa e a manta foi recolocada.
Tal metodologia de cura mostrou-se fundamental para evitar a fissuração dos frisos.
2.2 Sujeira e pichação
A poluição do local, extensamente povoado e com alta circulação de veículos particulares e ônibus,
provocou grande impregnação de fuligem nas fachadas. Nos locais onde não houve intervenção para
remoção do emboço, foi executada uma lavagem com quatro tipos de detergentes industriais: um neutro,
um alcalino, um ácido e um baseado em solventes desengraxantes. Os produtos alcalinos e ácidos
tinham seu PH muito próximo de sete, de modo a evitar agressões severas nos pontos de aplicação. Ao
final dos testes, optou-se pelo uso do detergente de caráter básico (Yellow Pine, da Spartan do Brasil)
diluído em água.
A aplicação se deu com o encharcamento prévio da base, aplicação do detergente diluído em água com
escova de cerdas plásticas e posterior lavagem com jato de água a alta pressão, suficientemente afastado
para evitar novos danos a um revestimento já fragilizado. Foram executadas duas lavagens, o que
resultou numa limpeza adequada e total remoção das pichações existentes.
2.3 Desagregação e desplacamento
As partes da igreja revestidas por reboco apresentaram problema de aderência na interface chapisco/
alvenaria (Figura 7) e raros foram os casos em que o reboco tinha se destacado do emboço. A camada
superficial da alvenaria de tijolos maciços estava fragilizada mecanicamente e apresentava-se
friável e facilmente riscável ao toque da unha, resultado dos inúmeros ciclos de secagem e umedecimento
decorrentes da idade do edifício e da infiltração de água por trincas e fissuras.
Figura 7. Desplacamento do emboço (foto do autor) Figura 8. Emboço removido e base preparada
(foto do autor)
A remoção do emboço nos locais atingidos não apresentou dificuldades devido à aderência estar bastante
comprometida. Após esta etapa, a alvenaria foi lavada com jato de água a alta pressão, o que
removeu a camada superficial dos tijolos comprometida pela baixa resistência mecânica.
Com a alvenaria umedecida, foi aplicado chapisco tradicional no traço 1:3 (cimento:areia grossa) e,
após pelo menos três dias de cura úmida, foi aplicado o emboço em espessura tal que o reboco voltasse
ao nível original, preservando a volumetria da obra. O emboço foi executado em traço 1:1:6 (cimenPág
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to:cal:areia), sendo que houve preparo de argamassa intermediária para maximizar a trabalhabilidade
final. Os seis volumes de areia eram compostos de areia fina e média em proporções semelhantes.
Cuidados foram tomados antes das demolições para que todos os detalhes da fachada pudessem ser
recompostos nas suas dimensões originais, sem perda de referência. Assim, para detalhes curvos e
arredondados foram feitos moldes em chapa galvanizada3 e/ou fibra (Figura 9), de modo que a massa
de emboço pudesse ser “cortada” na forma exata, ficando pronta para receber a camada final do reboco
(Figura 10).
Figura 9. Recomposição com auxílio de moldes
(foto do autor)
Figura 10. Emboço refeito nos detalhes
(foto do autor)
A recuperação do emboço e o tratamento da alvenaria não envolveram grandes trabalhos, uma vez que
as técnicas utilizadas puderam ser as atuais. Para recompor o reboco, entretanto, foi necessário o estudo
de um traço que imitasse ao máximo o reboco original, já deteriorado pela ação do tempo e poluição
do ar.
Inicialmente, a idéia foi de realizar uma reconstituição química de traço, mas logo em seguida foi abandonada
porque a verba disponível para ensaios químicos e físicos e para a pesquisa de matéria prima
era escassa. Ademais, a reconstituição de traço não traria grandes benefícios na elaboração do novo
reboco. Então, a metodologia adotada foi de usar os materiais de que se dispunha e produzir uma argamassa
com composição granulométrica que se aproximasse ao máximo da existente nas fachadas.
Na primeira etapa, uma pequena parte do reboco original foi fragmentada em nódulos que, por sua
vez, foram dissolvidos em ácido clorídrico diluído. Durante a dissolução, os nódulos foram amassados
com auxílio de bastões de madeira, acelerando o processo e evitando ao máximo a agressão do ácido
aos minerais existentes na composição.
Em seguida, o agregado já solto foi analisado visualmente e levado a um fornecedor de matéria prima
para revestimentos semelhantes ao reboco. Desta consulta foram definidos os agregados a serem utilizados
nos testes de composição do novo reboco: cristal (quartzo brilhante) em duas granulometrias,
branco (calcário leitoso) em duas granulometrias e preto (diabásio), também em duas granulometrias.
Além destes, foram também usados cimento branco, cimento cinza, areia fina e cal na composição da
argamassa final.
3 É importante salientar que moldes de molduras devem sempre ser usados de forma a não deixar vestígios de
ferro na fachada, o que pode ocasionar manchas de ferrugem no futuro.
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Foram elaboradas quatro composições iniciais, onde se percebeu a pequena influência da areia no aspecto
visual final do produto aplicado. A partir daí, foram formulados mais oito composições diferentes,
basicamente com variações nos teores de cristal e preto. Atingido o aspecto desejado do agregado
exposto após a aplicação e secagem dos panos teste, trabalhou-se a cor de fundo por meio da variação
dos teores de cimento cinza e branco (Figura 11).
Um aspecto muito importante que norteou a definição do traço final foi o teor aglomerante:agregado,
mantido sempre em torno de 1:1 a 1:1,25. A ausência de agregados de granulometria reduzida (abaixo
de 1mm), exigiu um grande teor de pasta para que a argamassa ficasse trabalhável a ponto de ser aplicada
e acabada de forma adequada. Por outro lado, mostrou-se uma argamassa extremamente rica e
sua aplicação em camada espessa apresenta grande chance de fissuração. Assim, o emboço foi aplicado
de forma que a camada de reboco não foi mais espessa que 8mm.
Todo o revestimento original estava dividido em pequenos quadros, tanto por motivos arquitetônicos
quanto por motivos executivos e de manutenções futuras. Revestimentos deste tipo não aceitam retoques
e sua manutenção deve sempre ser executada em todo um pano definido por juntas ou frisos de
fachada (Figura 12).
Figura 11. Panos de teste do reboco (foto do autor) Figura 12. Frisos na emenda de panos do reboco
(foto do autor)
Desta forma, o revestimento reaplicado respeitou rigorosamente a disposição dos frisos existentes,
todas as emendas entre panos foram executadas na posição dos frisos e a quantidade mínima de revestimento
aplicado foi sempre a equivalente a pelo menos um quadro definido por quatro ou mais frisos.
Os frisos existentes definem quadros de pequena dimensão, como por exemplo 25x40cm, 25x50cm,
30x50cm. Nas áreas ao nível das platibandas, os frisos são eqüidistantes em aproximadamente 60cm
(Figura 13).
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Figura 13. Disposição dos frisos no revestimento final do reboco e detalhe da cantaria (foto do autor)
3. RECUPERAÇÃO INTERNA
Por uma questão de cronograma da obra e verba disponível, a recuperação interna será executada após
o término da externa, o que significa data prevista para o final de 2006. Assim, os resultados da intervenção
e seus empecilhos serão discutidos futuramente. O texto a seguir ilustra os problemas detectados
e estabelece a metodologia de reparo dos pontos afetados.
Em análise preliminar visual, o revestimento interno das cúpulas apresentou grandes trechos agredidos
por manchas, descolorações e formação de mofo em pontos específicos. Após uma análise em maiores
detalhes, percebeu-se que os pontos atingidos pelos problemas sofreram ação da água infiltrada através
de pontos em que houve falhas na estanqueidade do telhado.
Alguns pontos deteriorados foram analisados por meio de intervenções mecânicas com ferramentas
manuais, o que permitiu comprovar que os pontos não atingidos pela água estavam em estado de conservação
sensivelmente superior aos demais e com boa resistência à abrasão. A Figura 14 mostra uma
das cúpulas vista por cima e a Figura 15 um esquema da concepção estrutural. Pode-se perceber que
existe um acúmulo de entulho no vértice das cúpulas que, devido à infiltração de água pelo telhado,
resulta numa região encharcada que corresponde aos pontos de maior deterioração da parte interna da
igreja.
Durante as análises in loco, a coloração esbranquiçada das argamassas e sua facilidade em sofrer abrasão
e riscamento (em comparação com uma argamassa cimentícia) foram fortes indícios de uma argamassa
composta principalmente de areia e cal e com possível teor de gesso. Esta conclusão pôde também
ser fortalecida pelo fato de que argamassas deste tipo eram comumente utilizadas na época da
construção da Igreja.
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Figura 14. Vista da parte superior da cúpula
(foto do autor) Figura 15. Esquema estrutural das cúpulas
Diferentemente de uma argamassa mista de cimento e cal, argamassas apenas baseadas no efeito aglomerante
da cal necessitam de vários meses e até anos para adquirir resistência mecânica, e ainda
assim bem inferior aos produtos cimentícios. Sua química de endurecimento está baseada na reação de
hidratação da cal e carbonatação do hidróxido de cálcio,
2 ( )2 CaO + H O⎯⎯→Ca OH
Ca(OH) CO tempo CaCO H O
2 2 3 2 + ⎯⎯⎯→ +
o que resulta num composto duro, frágil e praticamente insolúvel em água com PH neutro. Também,
tal reação neutraliza o PH elevado proporcionado pelo efeito alcalino do hidróxido de cálcio e, portanto,
atenua o caráter protetor das armaduras existente no meio alcalino. Esse fato não apresenta problemas
desde que não haja contato das armaduras com água líquida, o que não ocorreu devido às infiltrações
de água pelo telhado.
Em algumas situações, essas argamassas podem receber um teor reduzido de gesso para acelerar o
endurecimento inicial e facilitar a aplicação e o acabamento. Por outro lado, a presença de gesso impede
o uso de cimento na argamassa se o destino do revestimento for algum local sujeito à umidade, uma
vez que os dois materiais podem reagir expansivamente quando em presença de água, o que pode resultar
na ruptura mecânica da argamassa endurecida.
Frente ao tipo de desagregação encontrada na argamassa de revestimento interno e à localização dos
problemas em todos os vértices (encontros com os pilares) das cúpulas, pôde-se concluir que:
• a deterioração da pintura foi causada por dois efeitos principais: saponificação e criptoeflorescência.
O primeiro efeito foi devido à presença de água líquida com PH elevado e o segundo
representou a cristalização de sais entre a camada de pintura e a base que lhe dá suporte,
o que prejudicou seriamente a aderência e causou destacamento em forma de filme com
uma camada pulverulenta no verso (Figura 16);
• a argamassa sofreu desagregação mecânica por ciclos de molhagem/secagem, o que causou a
solubilização contínua dos sais da rede cristalina, resultando em lixiviação e aumento de porosidade.
Também, esses ciclos causaram variações volumétricas no corpo da argamassa, o que
causou a contínua ruptura da sua matriz resistente por esforços de compressão e tração;
• o aumento de porosidade ao longo do tempo permitiu a penetração de umidade em escala
crescente, acelerando ainda mais seu efeito nocivo até chegar à completa perda de aderência
em alguns casos. Partes do revestimento (algumas com frágil resistência mecânica e outras já
telhado
Vértice
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em estado de pulverulência) estão apenas suportados por regiões circunvizinhas e pelo efeito
confinante da película de tinta.
Figura 16. Vista interna das cúpulas mostrando a ação deletéria da água infiltrada (foto do autor)
Após ensaios de composição granulométrica da areia utilizada nas cúpulas, foram executados ensaios
de difração de raios X (DRX) para identificar quais os compostos químicos presentes no material endurecido,
o que permitiu deduzir com grande grau de certeza quais os compostos utilizados na sua
produção original.
Após a análise dos dados fornecidos, verificou-se a presença principal de sílica e carbonato de cálcio,
ou seja, areia e subproduto da cal. Não foram encontrados compostos que indicassem a presença de
cimento na argamassa original em qualquer dos pontos analisados, o que confirmou a hipótese inicial
do uso de argamassas compostas principalmente por cal e areia.
O revestimento das cúpulas está suportado por telas tipo déployé e/ou fios trançados ancorados em
uma estrutura espacial de barras de aço que, por sua vez, estão atirantadas à estrutura de madeira do
telhado. Uma vez que os tirantes encontram-se atualmente sem qualquer tensão de tração, pode-se
supor que seu uso teve apenas função construtiva e que as cúpulas são capazes de auto-sustentação por
efeito arco. Independente deste fato, os pontos atingidos serão recuperados como segue:
• os locais onde a argamassa está friável e com visível destacamento devem ser removidos e recompostos.
O termo friável aqui deve ser tratado com muito cuidado, pois mesmo os locais em
bom estado apresentam baixa resistência à abrasão por se tratar de uma argamassa de cal;
• locais em que houve corrosão das telas suporte devem ser tratados por meio da substituição
localizada do material por outro mecanicamente semelhante. Durante a inspeção, foram raros
os pontos com corrosão visível da armadura.
Nos demais locais afetados, como paredes e arcos onde não existe reforço metálico, o revestimento
deve ser simplesmente recomposto. É importante ressaltar que apenas os locais realmente danificados
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e com risco de queda devem ter o revestimento removido e reaplicado. Nos demais pontos, a argamassa
existente será tratada com uma solução de cal preparada da forma explicada abaixo e explicitada por
GOMES et all (1999) e NASCIMENTO (2002):
• separar uma parte de cal CH I e 8 partes de água, em volume;
• misturar, de preferência mecanicamente, por pelo menos cinco minutos;
• deixar a solução descansar por pelo menos 24h;
• retirar a solução sobrenadante e separar para aplicação. Os resíduos de fundo não devem ser
coletados.
Tal solução proporcionará a aglutinação e aumento da resistência mecânica do conjunto e deve ser
aplicada como segue:
• na parte superior, os locais atingidos devem ser encharcados até que a umidade seja visível na
parte inferior. Essa ação deve ser repetida três vezes, sendo que o intervalo entre elas é o tempo
de secagem (estimado em 3-5 dias) da parte inferior;
• na parte inferior, após a limpeza e remoção de partes soltas, a solução de cal deve ser borrifada
nos locais atingidos até o completo encharcamento, também por três vezes.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Gomes, Adailton O.; Maciel, Luciana L. Estudo da argamassa de cal para restauração de edifícios
históricos. In: III Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, 1999, ES. Anais. ES, SBTA,
1999, p.621-632.
Nascimento, Claúdia B. Deterioração de forro em estuque reforçado com ripas vegetais: o caso
“Vila Penteado” – FAUUSP. 2002.
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